2006-04-06

É nestes lugares que habitas

Sons que transbordam da alma e, plácidamente, estendem-se sobre almofadas de fogo.
É nestes lugares que habitas e te deleitas com as cordas que vibram e te levam para além de sonoridades inexplicáveis.


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2006-04-01

Um sorriso por entre a multidão


Passas-te por mim como fantasma no meio da multidão.
Fixei o teu sorriso e vi-me no espelho do teu olhar difuso, como difuso é o meu pensamento.

2006-03-23

Duas mãos numa guitarra


Cola o meu corpo ao teu e, na penumbra, deixa que os teus dedos o percorram

Quatro facas nos matam, quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome
Quatro facas meu amor com que me matassem
que eu mate esta sede e esta fome
....
Excerto do poema "Facas" - Manuel Alegre
Cantado por Amália Rodrigues com música de Alain Oulman

2006-03-18

Um rosto, um sax

O sax tem sentimentos que estão para além de quem o sopra.
A luta incansável terá de ter sempre um vencedor?
A harmonia, mesmo que aparentemente dissonante, nasce da fusão de um rosto e de um sax.
A mão completa a criação dessa harmonia.

Fragmentos de um corpo

O contrabaixo é um corpo de mulher.
Este são os seus fragmentos, a decomposição desse corpo.

Esperei-te num dia enublado

"Pastoral" na Pena


A neve tinha começado a cair e pousava, ao de leve, nas folhas das árvores e a neblina, antes tão densa, começava a desvanecer. Sentia um frio exterior mas, por dentro estava quente perante esta paisagem e o esforço da subida. Aqui encontrei a calma e o mistério que esconde os segredos dos encontros furtuítos de outros tempos. Tempos em que o tempo corria com a lentidão do prazer de olhar.

Pousaste-me em ti


Áh, como as cores quentes te assentam bem!

As ondas

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.

Sofia de Mello Breyner Andersen

Brumas de Outono

Senti, levado pela tua mão, atravessar a bruma como diagonal de sol e guiaste-me nesse passeio por entre folhagens de cor de princípio de Outono.

Sobe que sobe a calçada

Ah, como eu gosto das noites de Lisboa
Das ruas sem gente e com gente que sobe a calçada

Horizontes


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Nas cidades as grandes csasa fecham a vista à chave,

Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

“Guardador de rebanhos” – Alberto Caeiro

Pedro e Inês


Pedro sentou-se, tranquilamente sobre um tronco deixado cair do plátano que lhe dava sombra.
Abriu, despreocupadamente, um livro de P. Paixão sem saber qual o título.
Isso que lhe importava!
Todos são o seu modo de escrita
Todos são feitos de frases que lhe passaram pelos olhos da alma e que, timidamente, guardou em lugar seguro.
Duma janela troca-se o som de David Brubeck pela brisa perfumada do parque.
Inês acaba de tomar banho e ainda com o cabelo molhado envolto pela tolha, reconhece no espelho do quarto uma cara de suprema felicidade. A sua boca sabia ainda ao corpo de Pedro. Uma mistura de doce e salgado, a alfazema do seu perfume e o suor da paixão.
Pedro esperava que Inês o chamasse para a mesa posta na varanda. Saboreava ainda a mistura de doce e de salgado, do bergamo do perfume e do suor da paixão, que a sua boca transportava da noite anterior.
Esse sabor deu-lhe um sorriso que se projecta na moldura em ogiva da janela coberta por heras.
Inês, da janela do quarto, vislumbra Pedro e os seus olhares, tão longinquamente perto, cruzam-se com a mesma paixão de outro Pedro e de outra Inês, de uma paixão tão intensamente vivida, paixão de lágrimas, de sangue , de morte.

Pôr do Sol sobre as ilhas


Vi-te sair de um pôr do sol sobre as ilhas.
O teu corpo dourado passou por entre nuvens brancas,

nuvens carregadas dum negro cinza como aço de uma espada.

Lavaste os olhos no mar plumbeo e tingiste-o no verde da tua irís.
De entre as ilhas o som das ondas fundiu-se com a tua canção de embalar

com que aconchegaste o sono leve deste dia.

E o Sol,

estendido no leito verde do mar,

adormeceu.